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A Estante

A Estante

Fresh Off the Boat (2015-2020)

Design sem nome (12).pngEddie Huang, autor americano, chef, dono de restaurante, personalidade gastronômica, produtor e ex-advogado, lançou um livro sobre a sua infância, contando a sua experiência como americano a crescer nos anos 90, com uns pais vindos de Taiwan e com uma mentalidade diferente da dos seus colegas. Do seu livro de 2013, nasceu, dois anos depois, Fresh Off the Boat, a série, que teve seis temporadas. Eddie terá gostado do episodio piloto, mas não da forma como se desenvolveu. Opinião contrária é a minha que gostei, e muito. Mas, claro, eu não vivi o que ali se conta. Fresh Off the Boat coloca-nos na Orlando dos anos 90. O pai Huang, Louis (Randall Park) deixa Washington e um emprego mediano onde tinha o cunhado como patrão e decide abrir um restaurante. Nasce uma casa de bifes, com o tema do Velho Oeste que lentamente começa a ter sucesso. A mãe, Jessica (Constance Wu) é obsecada pela educação dos filhos, a quem tudo exige e pela poupança de dinheiro mesmo quando a família começa, enfim, a ter algum. É o contrário de Louis, divertido e quase infantil, apesar de ter olho para o negócio e tudo fazer pela família. Depois, os filhos, a começar, claro, por Eddie (Hudson Yang), amante de hip hop, cozinha e sobretudo de se divertir. Emery (Forrest Wheeler) é o filho do meio, com vontade de ser ator, bom aluno e sempre popular, entre amigos e amigas. Por fim, Evan (Ian Chen), menino prodígio, inteligente e aprumado. A família completa-se com a mãe de Louis (Lucille Soong), a quem a cadeira de rodas e o fraco domino do inglês não limita nas suas aventuras non-sense.

Aos longo de 116 episódios rimo-nos (muito) das peripécias normais de qualquer família e do choque cultural entre vários mundos, que muitas vezes têm representação dentro da própria família.

Dog Mendonça e Pizzaboy (2023)

Design sem nome (13).pngJá tinha comprado e lido os quatros volumes com as aventuras de Dog Mendonça, investigador do oculto sedeado em Lisboa e do seu ajudante, Pizzaboy, Eurico, antigo entregador de pizzas. A Tinta da China lançou em 2010, “As Incríveis Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy”, com prefácio de John Landis; as “As Extraordinárias Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy - Apocalipse”, em 2011, com prefácio de George A. Romero; “As Fantásticas Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy - Requiem”, em 2013, com prefácio de Tobe Hooper e “Os Contos Inéditos de Dog Mendonça e Pizzaboy”, em 2016, com prefácio de Lloyd Kaufman. Agora, não resisti a um novo volume, editado pela Companhia das Letras, nova casa do argumentista Filipe Melo, do desenhador Juan Cavia e do responsável pela cor, Santiago Villa.

“As Aventuras Completas de Dog Mendonça e Pizzaboy” era um sonho dos seus criadores que acaba de ver a luz do dia, tendo sido apresentado a 4 de junho na Feira do Livro de Lisboa. Com capa dura, junta os quatro livros originais e junta-lhe uma novíssima história, a de Madame Chen, relativamente secundária na trama, mas que acrescenta muito ao volume. Acompanhamos a sua vida desde uma China que já não existe até à sua chegada a Lisboa onde se torna num oráculo. O traço de Cavia, mais maduro desde as primeiras aventuras e o texto de Melo, também mais desenvolvido desde 2010, fazem da história extra, motivo suficiente para se apostar no volume, mesmo que o preço seja alto, mesmo que compatível com 2023 e cima a qualidade da edição.

Melo e Cavia, responsáveis, entretanto por obras primas como Balada para Sophie ou Os Vampiros, são mais do que mostram nestas aventuras, mas foi aqui que começou a sua união e mesmo sendo notória a evolução artística de ambos, como é natural, é muito bom ler ou reler estas histórias.

Este é um dos lançamentos do ano.

MacBeth (2023)

Design sem nome (14).pngUm dos fatores que me atrai na banda desenhada é a possibilidade de consumir grandes clássicos num género diferente. Pode ser uma forma mais “leve” de os consumir, mas também é uma outra abordagem, que adapta ou simplesmente ilustra histórias intemporais. Tudo isto para escrever sobre MacBeth, Rei da Escócia, saído da arte de Guillaume Sorel e Thomas Day, agora editado pel´A Seita, na coleção Nona Literatura, que já nos trouxe Drácula.

A dupla conta, em traços gerais, a história original de Shakespeare, na qual o general escocês MacBeth trai o primo para lhe ficar com a coroa, com a ajuda da mulher. No entanto, nesta versão, Lady MacBeth tem um papel mais central do que nunca, fazendo do marido, um instrumento da sua vontade. A tragédia ganha novas cores e ainda bem.

Bartleby, o escriturário (2023)

Design sem nome (16).pngUm atarefado advogado de Wall Street contrata o jovem e misterioso Bartleby para ser mais um par de mãos a ajudar no escritório. Por dois dias, o novo empregado responde, mas a partir daí começa a “preferir” não fazer isto e aquilo, até ao ponto que é dispensado do seu emprego. Nem por isso deixa o escritório ou a vida do seu patrão, que sente por ele uma certa compaixão. Esta é a belíssima adaptação a novela gráfica da alegoria de Herman Melville, lançada em 1853. Excelete trabalho de José Luis Munuera.

Rabo de Peixe (2023)

Design sem nome (17).pngRabo de Peixe é um fenómeno mundial, estando nos tops da Netflix. Não sendo a série do ano, é motivo de orgulho para a ficção local. Tem excelentes atores a fazerem muito bem o seu trabalho; tem uma história original que se desenrola de forma competente; é bem filmada e tem um visual interessante. É verdade que descai para um lado demasiado POP, pouco condizente com a pobreza e melancolia dos Açores, mas sem isso, a série seria menos comercial e ser comercial não é necessariamente algo mau.

Rabo de Peixe leva-nos ao início dos anos 2000 quando um barco ao largo dos Açores perde a sua carga: 500 quilos de droga. Se parte dá à costa e é apreendida, outra grande parte fica à mercê dos mais conhecedores dos mares. Eduardo (José Condessa) segue a maré e encontra uma boa parte da carga. Ele que sempre foi pobre, só tem a memória da mãe e o pai, cego. Vê no pó um sinal de mudança de vida, finalmente. Para se fazer rico, conta com a ajuda dos melhores amigos: Carlinhos (André Leitão), gay frequentado por homens casados que dele têm vergonha; Rafael (Rodrigo Tomás), estrela de futebol na adolescência e agora pescador/pequeno criminoso e a sua namorada e amor de Eduardo, Silvia (Helena Caldeira). Mas, a riqueza fácil bate de frente com a polícia (Maria João Bastos e Salvador Martinha) e dos bandidos, locais (Albano Jerónimo ou Afonso Pimental) e internacionais (Francesco Acquaroli e Marcantonio Del Canto).

Rabo de Peixe, uma das mais pobres e esquecidas freguesias de Portugal, é apenas pano de fundo e possivelmente as vidas sem esperança das suas gentes seriam melhor retratadas noutro registo mas esta aventura que mete mulheres de bikini e cabelo rosa, bem como alguns estereótipos e episódios sem grande surpresa, no geral, é um belo produto que acrescenta bastante ao streaming em português.