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A Estante

A Estante

15 de Junho, 2023

Fresh Off the Boat (2015-2020)

Francisco Chaveiro Reis

Design sem nome (12).pngEddie Huang, autor americano, chef, dono de restaurante, personalidade gastronômica, produtor e ex-advogado, lançou um livro sobre a sua infância, contando a sua experiência como americano a crescer nos anos 90, com uns pais vindos de Taiwan e com uma mentalidade diferente da dos seus colegas. Do seu livro de 2013, nasceu, dois anos depois, Fresh Off the Boat, a série, que teve seis temporadas. Eddie terá gostado do episodio piloto, mas não da forma como se desenvolveu. Opinião contrária é a minha que gostei, e muito. Mas, claro, eu não vivi o que ali se conta. Fresh Off the Boat coloca-nos na Orlando dos anos 90. O pai Huang, Louis (Randall Park) deixa Washington e um emprego mediano onde tinha o cunhado como patrão e decide abrir um restaurante. Nasce uma casa de bifes, com o tema do Velho Oeste que lentamente começa a ter sucesso. A mãe, Jessica (Constance Wu) é obsecada pela educação dos filhos, a quem tudo exige e pela poupança de dinheiro mesmo quando a família começa, enfim, a ter algum. É o contrário de Louis, divertido e quase infantil, apesar de ter olho para o negócio e tudo fazer pela família. Depois, os filhos, a começar, claro, por Eddie (Hudson Yang), amante de hip hop, cozinha e sobretudo de se divertir. Emery (Forrest Wheeler) é o filho do meio, com vontade de ser ator, bom aluno e sempre popular, entre amigos e amigas. Por fim, Evan (Ian Chen), menino prodígio, inteligente e aprumado. A família completa-se com a mãe de Louis (Lucille Soong), a quem a cadeira de rodas e o fraco domino do inglês não limita nas suas aventuras non-sense.

Aos longo de 116 episódios rimo-nos (muito) das peripécias normais de qualquer família e do choque cultural entre vários mundos, que muitas vezes têm representação dentro da própria família.

14 de Junho, 2023

Dog Mendonça e Pizzaboy (2023)

Francisco Chaveiro Reis

Design sem nome (13).pngJá tinha comprado e lido os quatros volumes com as aventuras de Dog Mendonça, investigador do oculto sedeado em Lisboa e do seu ajudante, Pizzaboy, Eurico, antigo entregador de pizzas. A Tinta da China lançou em 2010, “As Incríveis Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy”, com prefácio de John Landis; as “As Extraordinárias Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy - Apocalipse”, em 2011, com prefácio de George A. Romero; “As Fantásticas Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy - Requiem”, em 2013, com prefácio de Tobe Hooper e “Os Contos Inéditos de Dog Mendonça e Pizzaboy”, em 2016, com prefácio de Lloyd Kaufman. Agora, não resisti a um novo volume, editado pela Companhia das Letras, nova casa do argumentista Filipe Melo, do desenhador Juan Cavia e do responsável pela cor, Santiago Villa.

“As Aventuras Completas de Dog Mendonça e Pizzaboy” era um sonho dos seus criadores que acaba de ver a luz do dia, tendo sido apresentado a 4 de junho na Feira do Livro de Lisboa. Com capa dura, junta os quatro livros originais e junta-lhe uma novíssima história, a de Madame Chen, relativamente secundária na trama, mas que acrescenta muito ao volume. Acompanhamos a sua vida desde uma China que já não existe até à sua chegada a Lisboa onde se torna num oráculo. O traço de Cavia, mais maduro desde as primeiras aventuras e o texto de Melo, também mais desenvolvido desde 2010, fazem da história extra, motivo suficiente para se apostar no volume, mesmo que o preço seja alto, mesmo que compatível com 2023 e cima a qualidade da edição.

Melo e Cavia, responsáveis, entretanto por obras primas como Balada para Sophie ou Os Vampiros, são mais do que mostram nestas aventuras, mas foi aqui que começou a sua união e mesmo sendo notória a evolução artística de ambos, como é natural, é muito bom ler ou reler estas histórias.

Este é um dos lançamentos do ano.

13 de Junho, 2023

MacBeth (2023)

Francisco Chaveiro Reis

Design sem nome (14).pngUm dos fatores que me atrai na banda desenhada é a possibilidade de consumir grandes clássicos num género diferente. Pode ser uma forma mais “leve” de os consumir, mas também é uma outra abordagem, que adapta ou simplesmente ilustra histórias intemporais. Tudo isto para escrever sobre MacBeth, Rei da Escócia, saído da arte de Guillaume Sorel e Thomas Day, agora editado pel´A Seita, na coleção Nona Literatura, que já nos trouxe Drácula.

A dupla conta, em traços gerais, a história original de Shakespeare, na qual o general escocês MacBeth trai o primo para lhe ficar com a coroa, com a ajuda da mulher. No entanto, nesta versão, Lady MacBeth tem um papel mais central do que nunca, fazendo do marido, um instrumento da sua vontade. A tragédia ganha novas cores e ainda bem.

12 de Junho, 2023

Bartleby, o escriturário (2023)

Francisco Chaveiro Reis

Design sem nome (16).pngUm atarefado advogado de Wall Street contrata o jovem e misterioso Bartleby para ser mais um par de mãos a ajudar no escritório. Por dois dias, o novo empregado responde, mas a partir daí começa a “preferir” não fazer isto e aquilo, até ao ponto que é dispensado do seu emprego. Nem por isso deixa o escritório ou a vida do seu patrão, que sente por ele uma certa compaixão. Esta é a belíssima adaptação a novela gráfica da alegoria de Herman Melville, lançada em 1853. Excelete trabalho de José Luis Munuera.

12 de Junho, 2023

Rabo de Peixe (2023)

Francisco Chaveiro Reis

Design sem nome (17).pngRabo de Peixe é um fenómeno mundial, estando nos tops da Netflix. Não sendo a série do ano, é motivo de orgulho para a ficção local. Tem excelentes atores a fazerem muito bem o seu trabalho; tem uma história original que se desenrola de forma competente; é bem filmada e tem um visual interessante. É verdade que descai para um lado demasiado POP, pouco condizente com a pobreza e melancolia dos Açores, mas sem isso, a série seria menos comercial e ser comercial não é necessariamente algo mau.

Rabo de Peixe leva-nos ao início dos anos 2000 quando um barco ao largo dos Açores perde a sua carga: 500 quilos de droga. Se parte dá à costa e é apreendida, outra grande parte fica à mercê dos mais conhecedores dos mares. Eduardo (José Condessa) segue a maré e encontra uma boa parte da carga. Ele que sempre foi pobre, só tem a memória da mãe e o pai, cego. Vê no pó um sinal de mudança de vida, finalmente. Para se fazer rico, conta com a ajuda dos melhores amigos: Carlinhos (André Leitão), gay frequentado por homens casados que dele têm vergonha; Rafael (Rodrigo Tomás), estrela de futebol na adolescência e agora pescador/pequeno criminoso e a sua namorada e amor de Eduardo, Silvia (Helena Caldeira). Mas, a riqueza fácil bate de frente com a polícia (Maria João Bastos e Salvador Martinha) e dos bandidos, locais (Albano Jerónimo ou Afonso Pimental) e internacionais (Francesco Acquaroli e Marcantonio Del Canto).

Rabo de Peixe, uma das mais pobres e esquecidas freguesias de Portugal, é apenas pano de fundo e possivelmente as vidas sem esperança das suas gentes seriam melhor retratadas noutro registo mas esta aventura que mete mulheres de bikini e cabelo rosa, bem como alguns estereótipos e episódios sem grande surpresa, no geral, é um belo produto que acrescenta bastante ao streaming em português.