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A Estante

A Estante

Um Homem de Sorte (2018)

Design sem nome.pngBille August, conhecido por realizar a adaptação de A Casa dos Espíritos, de Isabel Allende, aventurou-se, muitos anos mais tarde em adaptar ao cinema este Likke Per conhecido por cá como Um Homem de Sorte. Aqui, no fim do Séc. XIX, conhecemos Peter Andreas, um jovem dinamarquês à beira de trocar a Jutlândia por Copenhaga, para cumprir o sonho de se tornar engenheiro. Para trás deixa um pai, conhecido e respeitado clérigo que não esconde a desilusão com a vida do filho e a mãe, obediente.

Em Copenhaga, ao mesmo tempo que tem sucesso académico, começa a tentar vender o seu projeto, que esbarra sempre na sua juventude, falta de meios e atitude obstinada e incapaz de se desviar um milímetro da sua vontade. Começa a atrair os olhares femininos, desde uma empregada de um restaurante, que lhe dá amor e a mão em alturas de solidão e fome e logo passa para um alvo bem mais apetecível: a família Solomon.

Peter Andreas conhece o irmão mais velho da rica e influente família e continua a conquistar toda a família, incluindo as duas filhas. A mais nova logo cai aos seus pés, mas Per não para até conquistar a mais velha (a que irá receber a maior parte da herança), nem que para isso tenha que destruir um noivado. Mas mesmo quando atinge a possibilidade real do seu projeto ir em frente, Per nunca está feliz nem realizado e é nessa altura em que começa a pensar no regresso à Jutlândia, de onde sempre fugiu.

São quase três horas de luta interior que valem muito a pena.

O Penteador (2022)

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Chegou-me às mãos neste Natal, O Penteador, de Paulo J. Mendes, sendo que não conhecia nem obra, nem autor. Mas fiquei mais rico ao conhecer. Aqui, conhecemos, numa cidade fictícia e num tempo indeterminado, Mafaldo, jovem em busca de trabalho que responde ao apelo de ser penteador. Uma das muitas graças do seu futuro patrão, senhorio e amigo, a profissão tem a ver com a tarefa de pentear manequins e é apenas uma forma bem-humorada de dizer que o emprego de Mafaldo é o de tomar conta de uma loja que vende um pouco de tudo. Para assegurar o emprego, o jovem deve viajar até Poço Redondo, localidade onde Nascilindo vive os seus dias, longe do rebuliço da cidade e dos clientes chatos. E Mafaldo, também apaixonado pela localidade, suas gentes e simplicidade, não se coíbe de ir voltando, muitas vezes acompanhado por um cada vez maior rol de personagens. Uma bela proposta de Paulo J. Mendes, numa banda desenhada verdadeiramente original.

A Espera (2023)

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Acaba de sair pela Iguana, este fabuloso A Espera, considerado, como destaca a capa, pelo The Washington Post e pela Forbes como melhor novela gráfica do ano. Não sei se o será, mas ocupa, pelo menos, um lugar bastante alto nesse top imaginário e sobretudo, subjetivo.

Aqui, Keum Suk Gendry-Kim, sul coreana nascida em ditadura e com estudos e vida feita em França, fala-nos de uma realidade que a tocou de perto. A separação das duas Coreias e a consequente separação de familiares. Tal aconteceu com a mãe e com a tia, sendo que a autora só descobriu esta história quando já era adulta. A história central é a de Gwijá, de 92 anos, que após 70 anos, ainda tem esperança de encontrar o filho mais velho ao mesmo tempo que a Cruz Vermelha ajudou a sua amiga Jeong-Sun a reencontra a irmã.

A Espera usa um traço relativamente simples, a preto e branco, para contar a história de vários cisões, começadas em 1950 e uma parte essencial da história coreana.

A Última Batalha do Imperador (2003)

Design sem nome.pngEste “Monsieur N.” conhecido por cá como “Napoleão – A Última Batalha do Imperador” já tem vinte anos, mas só agora o vi. Nele encontramos Napoleão (Philippe Torreton) no exilio na ilha de Santa Helena, uma pequena ilha descoberta pelos portugueses, mas nunca colonizada até os ingleses tomarem conta dela. Foi lá que o antigo imperador francês viveu os seus últimos dias. Ou será que não? Antoine de Caunas explora a possibilidade de história diferente, a da fuga ardilosa de Napoleão da ilha. Nos entrefolhos da narrativa escapa a possibilidade de o imperador ter acabado a vida como homem livre e não de ter morrido isolado e prisioneiro.

Mas mais do que esta linha, o que mais interessa no filme é como a figura de Napoleão, mesmo em queda, criava grande impacto em todos os que os rodeavam. Desde logo continuava a ter à sua volta uma pequena corte, de bajuladores e interesseiros, mas também dos mais dedicados súbditos. E pelo filme, também os ingleses lhe tinham respeito e temor, como se comprava pelas apertadas medidas de segurança que Napoleão fingia ignorar ou pelo menos minorar. A malha aperta quando chega à ilha Sir Hudson Lowe (Richard E. Grant), um oficial com um currículo cheio de falhanços que quer impor mais e mais apertadas regras a Napoleão, numa postura de ódio com algum mal disfarçado respeito. É no jovem oficial Heathcote (Jay Rodan) que Napoleão deposita algum respeito.