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A Estante

A Estante

Griselda (2024)

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Reza a lenda que Pablo Escobar só tinha medo de uma pessoa: Griselda Branco. É a sua história que conhecemos em Griselda, nova aposta na Netflix e nova incursão do streaming no mundo do narcotráfico. Sofia Vergara, ela própria colombiana, deixa para trás os papeis redutores de “boazona” e assume aquele que pode ser o papel da sua vida. Não que a sua personagem não seja objeto de desejo, mas é muito mais do que isso. É ela que manda.

Encontramos uma Griselda já adulta, com três filhos e a fugir do marido violento, irmão mais novo de um barão da droga de Medellín. Para trás fica um casamento longo e tortuoso e uma vida como prostituta. Procurando uma nova vida em Miami, começa por vender um quilo de cocaína para começar uma nova vida e ao invés, usa a experiência que acumulou como braço direito do marido e começa um novo negócio.

Griselda enfrenta um mundo machista onde a sua opinião não tem valor, mas onde a sua determinação e inteligência começam a furar rumo à construção de um império. Uma bela surpresa de início de ano.

Os Irmãos Sun (2024)

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Bruce (Sam Song Li) é um jovem de Taipei a viver nos EUA com a mãe, a pacata enfermeira Mama Sun (Michelle Yeoh). Bruce, aquilo a que se pode chamar um “cromo” estudo medicina enquanto, às escondidas tem aulas de improvo, a sua verdadeira paixão. A milhares de quilómetros dali, Charles (Justin Chien) sofre um ataque em sua casa (enquanto faz bolos, a sua verdadeira paixão) e na sequência, o pai, Big Sun (Johnny Kou), chefe dos chefes da máfia de Taipé é alvejado e fica em coma. Charles viaja para os EUA para proteger a mãe e o irmão que não via há mais de 15 anos.

É assim que Bruce começa a conhecer verdadeiramente a mãe e a história da sua família e reencontra um irmão que praticamente não conhecia, criando laços, entre uma trama bem-humorada de ataques e espetaculares cenas de artes marciais. Uma pérola, pouco escondida que conta com cenas inesqueciveis como quando a Mama Sun prepara uns noodles com vaca, ao lado do cadáver de um assassino mandado para atacar o filho ou quando o grupo se esconde numa casa segura, propriedade do ator John Cho, onde tudo, da decoração aos chinelos tem a cara de Cho. 

Our Little Secret (2023)

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Our Little Secret conta a história verídica de como a jovem Emily Carrington foi sistematicamente violada por Richard, vizinho e suposto amigo do pai. Filha de um casal britânico a viver no Canadá, Emily escolhe viver com o pai, depois da separação dos pais. A viver numa casa pobre e sem grande limpeza, Emily sente frio e desconto encontrando-o na casa dos vizinhos, Richard e Brenda, onde pode tomar banho de água quente, comer uma boa refeição quente e ter uma vida relativamente normal por oposição à que tinha com a mãe, com alguma violência e à que tem com o pai, que lhe grita por tudo e por nada. Mas, Richard, a sós, revela-se algo além do “pai substituto” que poderia ser. Começa a aproveitar-se de Emily, que, sem estar habituada a gostar de si mesma não sabe rejeitar algo que não quer. Só alguns anos depois se atrave a contar e a fazer queixa do seu agressor. Um relato duro.

O Mundo de Sofia, 2 (2023)

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Há cerca de um ano escrevi sobre o primeiro volume. No fim de 2023 foi editado o segundo e último volume da adaptação a banda desenhada do clássico O Mundo de Sofia, do filosofo norueguês Jostein Gaardner. Nicoby e Vicent Zabus voltam a mostrar-nos as lições que Sofia recebe, de um misterioso professor e da boca dos próprios filósofos, de forma simples. Se tem o mérito de tornar relativamente simples as ideias de homens como Espinosa, Kant ou Freud, tem o mérito ainda maior, e de acordo, com o suporte, de ser um enorme triunfo visual. A não perder.

A Morte de Ivan Ilitch (1886)

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Publicado cerca de 100 anos antes de eu nascer, é uma pena que só agora, quase aos 40 anos, tenha lido o pequeno (fisicamente) livro de Liev Tolstói. Li uma edição de 2008, com prefácio de António Lobo Antunes – “Este livro tão breve, uma das maiores obras-primas do espírito humano, tem sido, desde a sua publicação, um motivo de controvérsia para a crítica: trata-se de uma obra sobre a morte ou de uma obra que nega a morte?”.

Aqui, um dos maiores escritores de sempre conta a história de Ivan Ilitch, juiz de relevo, começando pelo fim e como os seus conhecidos sabem da notícia da sua morte e acorrem a sua casa para prestar a sua homenagem à viúva. Depois do velório, ficamos a conhecer a vida de Ivan, nascido numa família com posses, ganhas graças a posições mais ou menos vazias em organismos públicos, uma vida que Ivan, mesmo que competente, segue. Depois de cargos menores, com dinheiro contado e de várias zangas com a mulher, é finalmente colocado numa nova cidade com um salário que lhe permite ter uma vida confortável.

Vai à frente para preparar a nova vida. Arranja uma casa e decora-a, tomando atenção a todos os pormenores. Quando dá instruções de como colocar um cortinado da melhor forma, cai e magoa-se na zona do rim. Uma incomoda nódoa negra acompanha-o, sem que ele lhe ligue até perceber que ela não desaparece. A estranha lesão muda-lhe a vida e faz com que cada vez mais se mantenha em casa. Começa uma batalha interior. Morrer acaba-lhe com o sofrimento, mas Ivan quer também a vida. E, claro, através dele, os outros personagens e nós, pensamos também no sentido da existência.

Nem me atrevo a classificar uma obra assim, imortal.

Ozark (2017-2022)

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Marty Byrde (Jason Bateman) aceitou lavar dinheiro para um cartel de droga mexicano, mas manteve uma vida quase chata, no seu escritório, por muito que a atividade o fosse afastando, aos poucos da família. Numa altura em que o sócio se tornou demasiado vistoso para o gosto do discreto Marty e a mulher, Wendy (Laura Linney) procura calor nos braços de outro homem, um dos tenentes do cartel resolve visitar os fornecedores de Chicago, acabando por meter a maior parte deles em barris de ácido.

Marty, mais inteligente e inocente do que os outros, convence o “patrão” de que pode lavar mais dinheiro num pequeno paraíso desconhecido ao redor do lago Ozarks onde os mais pobres e saloios convivem, por vezes, com os mais ricos. Deslocando a família para o Missouri, Marty começa a lutar contra o tempo para lavar dinheiro dentro dos prazos e montantes exigidos à medida que tenta que os filhos tenham uma vida tão normal quanto possível e tenta voltar a ganhar confiança na mulher.

Mas o cartel não é o único problema dos Byrde. Além das suspeitas que a sua fuga levanta no FBI e a desconfiança da polícia local num homem recém-chegado com dinheiro vivo para investir (num hotel, num bar de senhoras dançarinas, numa funerária, numa igreja, um ambicioso casino...) Marty bate de frente com a família Snell, habituada a ter o monopólio local do crime e com os Langmore, pequenos/médios criminosos que lhe cobiçam os sacos de dinheiro que leva para a nova casa, mesmo que da família, tacanha, possa sair Ruth (Julia Garner), candidata a braço direito de Marty. Claro que, com o avançar das temporadas, outros vilões se juntam para nunca dar descanso a Marty, aparentemente imperturbável.

Ozark, criação de Bateman, mais conhecido por papeis em comédias românticas ou filmes de humor, faz lembrar Breaking Bad. É localizada numa cidade pouco óbvia; tem um ambiente próprio e sobretudo, tudo o que pode correr mal, corre mal ou pior. Uma obra prima.

A Vegetariana (2013)

Design sem nome (1).pngDe um dia para o outro, Yeonghye, após violentos sonhos que envolvem a morte de animais, decide deixar de comer ou cozinhar carne. Com efeito, ela que pelo menos na cozinha, fazia as delícias do marido, deita fora toda a carne disponível em casa e nunca mais faz um prato de carne. Mais, deixa de tocar no marido, acusando-o de cheirar a carne mesmo após tomar banho. O marido que a escolheu pela sua banalidade, para não destoar da sua vida já de si sem interesse, não sabe como lidar com a nova personalidade da mulher, que se isola cada vez mais do mundo.

Original, onírico e absolutamente único A Vegetariana venceu o Booker Prize tornando-se depois disso um sucesso mundial, incluindo na Coreia do Sul de onde é originária a sua autora, Han Kang.

Sunny #1 (2023)

Design sem nome.pngSunny é a personagem central da mangá com o mesmo nome de Taiyo Matsumoto. Não fingirei ser um entendido neste subgénero, no qual dei há poucas semanas os primeiros passos, mas sei que tanto esta coleção de livro como o seu autor são reconhecidos e premiados. Sunny não é mais do que um carro, estacionado à frente de uma casa que recolhe jovens cujas famílias não têm posses para os criar. Ao entrar no carro, os jovens podem fugir da realidade e imaginar estar a viajar para um qualquer destino exótico. Mas há mais do que Sunny na casa de acolhimento Hoshinoko. Cada criança tem uma personalidade própria e em geral rebelde, por fora ou por dentro, e combate os seus medos, nomeadamente o de ficarem a viver ali para sempre. Um triunfo visual e narrativo que expande os limites daquilo que eu pensava que a manga era: apenas histórias do fantástico.

Não me Esqueças (2023)

Design sem nome.pngClémence é uma jovem adulta que estuda teatro em Bruxelas. Quando vê como a avó, com quem passou longas horas ao crescer, é infeliz no lar onde vive e foge com frequência, resolve intervir, sem a sua mãe saber e leva a avó numa road trip, que pensa poder ajudar a curar a sua demência. 60 anos depois, a avó vai ver a sua casa de meninice.

Pelo caminho, os desafios são mais do que muitos – falta de dinheiro, falta de lugar onde dormir, uma amante fugaz com mãos leves, um batoteiro local que não gosta de perder e até um acidente – mas parecem apenas aproximar avó e neta, mesma que a primeira nem sempre se lembre de quem a acompanha ou saiba situar-se no espaço e tempo. E a viagem serve também para Clémence dar mais valor à mãe, a quem parece julgar demasiado.

Não havia melhor forma de começar o ano, em termos de bandas desenhadas. Excelente história e traço da belga Alix Garin.

Um Homicídio no Fim do Mundo (2023)

Design sem nome (1).pngDarby (Emma Corrin, Diana em The Crown) está habituado a lidar com a morte. Cresceu com um pai médico legista e aprendeu a ver nos corpos e ossadas algo que os outros não conseguem ver. Mais crescida, fez parelha com Bill (Harris Dickinson) para tentar resolver alguns casos que pareciam não ter solução. Depois, no presente da narrativa de Um Homicídio no Fim do Mundo vemo-la como escritora de algum sucesso, após ter lançado um livro que narra as duas etapas anteriores da sua vida. Darby é, pois, uma detetive amadora, uma escritora em ascensão e uma experimentada hacker.

É nesta fase que é surpreendida por um convite. Darby é convidada para um retiro de génios, na Islândia, promovido por Andy (Clive Owen), um visionário e gigante da tecnologia. Ainda a ambientar-se e a entender o seu lugar entre aquele grupo, que inclui uma astronauta (Alice Braga como Sian) e o seu ex-amante, Bill, agora transformado num artista conhecido como Fangs, Darby vê um dos elementos do grupo ser assassinado e logo desperta em si a sua faceta de investigadora.

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