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A Estante

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16 de Janeiro, 2024

A Morte de Ivan Ilitch (1886)

Francisco Chaveiro Reis

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Publicado cerca de 100 anos antes de eu nascer, é uma pena que só agora, quase aos 40 anos, tenha lido o pequeno (fisicamente) livro de Liev Tolstói. Li uma edição de 2008, com prefácio de António Lobo Antunes – “Este livro tão breve, uma das maiores obras-primas do espírito humano, tem sido, desde a sua publicação, um motivo de controvérsia para a crítica: trata-se de uma obra sobre a morte ou de uma obra que nega a morte?”.

Aqui, um dos maiores escritores de sempre conta a história de Ivan Ilitch, juiz de relevo, começando pelo fim e como os seus conhecidos sabem da notícia da sua morte e acorrem a sua casa para prestar a sua homenagem à viúva. Depois do velório, ficamos a conhecer a vida de Ivan, nascido numa família com posses, ganhas graças a posições mais ou menos vazias em organismos públicos, uma vida que Ivan, mesmo que competente, segue. Depois de cargos menores, com dinheiro contado e de várias zangas com a mulher, é finalmente colocado numa nova cidade com um salário que lhe permite ter uma vida confortável.

Vai à frente para preparar a nova vida. Arranja uma casa e decora-a, tomando atenção a todos os pormenores. Quando dá instruções de como colocar um cortinado da melhor forma, cai e magoa-se na zona do rim. Uma incomoda nódoa negra acompanha-o, sem que ele lhe ligue até perceber que ela não desaparece. A estranha lesão muda-lhe a vida e faz com que cada vez mais se mantenha em casa. Começa uma batalha interior. Morrer acaba-lhe com o sofrimento, mas Ivan quer também a vida. E, claro, através dele, os outros personagens e nós, pensamos também no sentido da existência.

Nem me atrevo a classificar uma obra assim, imortal.